Por John Maclauchlan
No movimento carismático o profeta tornou-se um perpétuo anunciador de palavras inspiradas, alguém que exercita regularmente o carisma da profecia, ao mesmo tempo em que para a maior parte da igreja evangélica ele já se tornou extinto. De fato, haver profetas de Deus é postulado pela existência de um Deus que se expressa. Um Deus que não só fala à sua criação e às suas criaturas através de eventos materiais, mas que fala aos homens através de homens. Tal é a natureza inevitável de um Deus pessoal que fez a criação e os homens a fim de se expressar neles através deles. Na verdade, Deus chegou mesmo a declarar que suas ações nunca excederão à revelação profética dada por ele! (Am3:7). Se alguém argumentar que Deus tem falado plenamente e de modo conclusivo a nós pela encarnação do seu Filho, responderemos que o seu Filho ainda está falando (At.1:1), e que ele faz isto dando profetas à sua igreja (Ef.4:11).
O termo mais antigo para profeta é roeh, vidente, uma palavra também usada para visão profética. O termo posterior é nabi', aquele que fala, porta-voz, profeta. Nabi' vem de uma raiz que significa levantar-se, vir à luz ou inchar. É relacionada com a palavra para um ribeiro borbulhante e com verbo jorrar, esguichar abundantes sons e palavras (Pv18:4). Pode ter um sentido passivo, como de "alguém que se faz borbulhar com o Espírito de Deus,que é inspirado", mas é mais corretamente interpretado como tendo um sentido ativo e contínuo: "alguém que jorra as palavras de Deus", um divulgador divinamente inspirado, um anunciador, um porta-voz (Êx7:1; 4:16). Portanto, há um aspecto anterior, passivo e receptivo no profeta: ele vê. E há um aspecto ativo, comunicativo: ele fala. Ele não é uma boca meramente; ele tem revelação e percepção da parte de Deus, e é comissionado a comunicar e agir como porta-voz de Deus, compartilhando de um coração cheio de visão e revelação.
ELE VÊ
Conclui-se que o profeta terá um papel a desempenhar sempre que Deus estiver falando ou agindo. Através dele Deus expressa sua vontade, seus anseios e propósito. O profeta vê o que Deus está fazendo e dizendo antes de expressar e anunciá-lo (Am1:1).Deus desvenda o seu propósito ao profeta, pois sem tal revelação ele permaneceria encoberto (Am3:7). Este desvendamento não vem necessariamente por meio de uma palavra repentina que lhe "cai do céu", mas mais freqüentemente consiste de uma crescente percepção, um arraiar de revelação, pois o profeta está constantemente ouvindo a Deus com o coração e o ouvido de um discípulo (Is 50:4,5). Depois de ter visto e ouvido, é natural, ou melhor, inevitável, que ele fale, assim como é natural que o temor siga ao rugido do leão!(Am 3:8).
Como vidente, o profeta vê claramente e tem percepção até de eventos presentes (2 Rs 6:12). A sua preocupação o tempo todo é com a realização do propósito e desejos de Deus, e ele procura cumprimento e consumação. Ele compreende as coisas como estão, mas não as aceita sem mudança. Ele declara a palavra criativa e energética de Deus dentro da situação presente, e esta palavra torna-se evento ou acontecimento, mudando o que está ao seu redor. Portanto, uma prova da autenticidade do profeta é se sua palavra acontece,tornando-se realidade (Dt 18:22).
A personalidade do profeta se envolve muito na sua profecia. Seu temperamento, a vivacidade da sua imaginação,o tipo de imaginação que possui, seu treinamento mental e sua formação, todos têm um papel. Ele é um homem preparado por Deus desde o ventre da sua mãe, e tem sido guiado por um caminho formativo ordenado por Deus.
Desta forma Ezequiel expressa sua mais alta revelação em termos do templo tão bem conhecido por ele,e Amós usa figuras da sua vida de pastor de ovelhas. Isto não significa que a profecia seja sempre idêntica à opinião própria do profeta, conforme percebemos claramente na história do conselho que Natã deu a Davi (2 Sm 7:1-16). Primeiro ele deu conselho, mas este foi anulado pela palavra do Senhor. Mas, tendo em vista que o profeta é um homem que vive pela vontade de Deus, e que se permite encher e ser motivado pelos anseios e desejos de Deus é de esperar que ele experimente um nível cada vez mais alto de unanimidade com o seu mestre!
ELE DECLARA
O assunto do profeta corresponde com a sua percepção e carga: a vontade e o reino
de Deus. De fato, esta é a substância de toda a revelação de Deus ao seu povo. O profeta Moisés (Os 12:13) declarou a vontade de Deus para formar uma teocracia, e toda a profecia posterior está em harmonia com isso. De fato, um critério para julgar profecia é que qualquer profeta que afasta o povo da obediência a Deus é um profeta falso (Dt 13:1-3). O profeta anuncia a vontade e o alvo de Deus. Constantemente fala além das limitações do presente e declara o reino perfeito que será realizado através do Messias. A fim de que isto aconteça, ele declara o juízo vindouro, um juízo que começa agora na casa de Deus. Ele declara o "dia do Senhor", a perfeita revelação de Deus, envolvendo particularmente (e necessariamente) o juízo e a erradicação de todo o mal. Ele declara a "era vindoura" (Hb 6:5), mas também o seu efeito presente entre um povo atual que será um instrumento em liberar esta era vindoura. Ele mesmo freqüentemente libera os poderes desta era vindoura em sinais miraculosos que apontam para o reino de Deus (por exemplo, Moisés e Elias), mas seu verdadeiro anseio é para que o próprio povo de Deus torne-se, ele mesmo, o maior sinal (Is 8:18 ; Zc 3:8).
ELE PREDIZ
O profeta faz predições concretas, mas não é nenhum clarividente com a pretensão de ver adiante um futuro já predeterminado. Ele aceita que a vontade e o tempo de Deus são ambos reais, não ilusórios. Por estar cheio da vontade e dos desejos de Deus, ele declara esses desejos criativamente dentro da situação presente, mudando e moldando-a,e liberando a vontade de Deus para realmente acontecer. Desta forma, Daniel tomou a predição de restauração feita por Jeremias, respondeu a ela e pela oração trouxe-a ao seu cumprimento. Há ampla evidência que circunstâncias mudadas alteram uma direção de eventos anteriormente declarado (Jn 4:2).
Por serem a história e o tempo fatos reais o profeta reconhece que os obstáculos precisam ser removidos. Por isso ele arranca e derruba (Jr 1:10) para dar lugar à construção firmada daquilo que Deus quer. Essa função destrutiva é essencial para limpar todo o entulho e lixo dos séculos de falsos conceitos e idéias humanas, e para abrir o caminho para Deus fazer novas todas as coisas. Mais do que todos, o profeta sabe que o machado precisa ser posto à raiz das árvores, e que a igreja doentia e esfacelada por divisões precisa dar lugar à nova e pura criação de Deus.
O profeta fala usando conceitos comuns e ele mesmo e aos seus ouvintes. Assim “Sião” era o local geográfico para os judeus; agora, para a igreja, transcende localidade nacional. Se Sião significa a igreja manifestando o reino, os inimigos hereditários (Egito, Moabe, Edom, Assíria, etc.) significam os oponentes do povo de Deus, tanto espirituais como terrenos, e a guerra contra esses inimigos pode ser interpretada como uma expressão da confrontação da igreja com o mal ( Is 1:14). O princípio corporificado pela profecia é o central; somente os acontecimentos poderão revelar até que ponto seus detalhes são literais. A predição do Messias montado num jumento ( Zc 9:9) expressava a sua humildade, e não era necessariamente uma predição concreta até que Jesus a viveu na prática para expressar o princípio envolvido. O resto da profecia não foi cumprido literalmente, mas o princípio de toda ela é válido.
Portanto, os princípios da profecia são válidos para toda geração. O dia do Senhor
significava, numa época, juízo pelas mãos da Assíria, e significará juízo final. Nos dias da Reforma, identificava-se o anticristo com o Papa, depois mais recentemente com Hitler, mas será o homem do pecado dos tempos do fim. As manifestações destes princípios voltam a ocorrer repetidas vezes na história, mas o círculo da profecia se fechará com a consumação, a expressão completa desses princípios. O ingrediente ausente de permanência e consumação é integralmente ligado à ressurreição (Is 26:14-19), que por este motivo é também um tema central para o profeta. Ele vê que esta geração, a sua geração, pode completar a vontade de Deus ( 2 Pe 3:12) e prosseguindo, entrar na imortalidade.
ELE COMUNICA
O profeta tem um senso de história e um senso de destino. Ele tem sempre a
consciência de estar levando para frente algo que foi iniciado a muito tempo, de estar desenvolvendo algo já existente. Ao declarar o reino de Deus agora, ele é cônscio de ser um descendente direto daqueles que primeiro proclamaram este grandioso tema. Por causa do seu senso de história e de destino, que se combina com uma profunda história pessoal dos tratamentos de Deus, ele se torna singularmente capaz de comunicar um senso de história e de destino para o povo de Deus.
Num sentido, o próprio profeta personifica o propósito de Deus e deve se livrar de
interesses pré-estabelecidos sejam em termos do cumprimento das suas palavras ou em
termos de patriotismo e nacionalismo.
Sua única preocupação é a causa e o reino de Deus.
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