Você já parou para pensar que a época de maior glória da igreja foi quando não havia controle humano algum sobre sua vida diária? Não havia burocracia, sede de governo nem oficiais com títulos ou posição hierárquica. A vida da igreja era imprevisível, cheia de aventura, espontaneidade e novidade. Cada reunião era um evento único; cada encontro pessoal, uma surpresa.
Os líderes principais, além de não controlarem ou dirigirem a vida da igreja, nem sequer sabiam, muitas vezes, onde eles mesmos estariam no dia ou na semana seguinte! Pense, por exemplo, em Pedro perambulando pela terra de Israel (At 9.32) sem a menor preocupação de pensar sobre como a igreja de Jerusalém sobreviveria sem a sua presença. Ou imagine como Filipe saiu de um avivamento que sacudia a cidade de Samaria, foi ao deserto pregar para um eunuco e, depois, “achou-se em Azoto” (At 8.40) – lembrando que fora ungido como diácono para servir as viúvas de Jerusalém (At 6.5)!
Toda vez que lemos os relatos inspirados de Atos, sentimos o frescor e o dinamismo de um povo cheio de vida e paixão por Jesus. Ficamos mesmerizados diante de uma história que, apesar de aparentemente anárquica, sem plano ou governo humanos, acaba seguindo um roteiro preciso, divino, guiado pelas mãos habilidosas do próprio Espírito Santo.
Como Filipe conseguiu encontrar um eunuco no deserto justamente quando ele estava lendo Isaías 53? Como Cornélio teria achado Pedro na casa de Simão, o curtidor, se não fossem as informações fornecidas por um anjo? Como Ananias teria encontrado Saulo se não tivesse acesso aos mesmos métodos? (Naquele tempo, ninguém precisava de GPS ou Google Maps!)
Como, apesar de monstruosas oposições, perseguições e desentendimentos, Paulo conseguiu construir uma ponte entre o Velho e o Novo Testamento, entre a lei e a graça, entre judeus e gentios, que dura até hoje? Como João pôde obter uma visão como a do Apocalipse que, apesar de tão surreal e fantasmagórica, leva ao seu devido cumprimento cada semente lançada no livro de Gênesis - e isso sem ter a menor noção de que estava escrevendo o último livro da Bíblia?
Guiados pelo Espírito como no princípio
Ultimamente, sinto em meu espírito que estamos adentrando uma nova etapa da história da igreja. A Bíblia fala claramente que Jesus voltará para uma igreja gloriosa; porém, para que isso seja possível, ela vai ter de voltar às suas origens – ou seja, terá de tornar a ser controlada e governada, de forma ostensiva, pelo Espírito Santo. Graças a Deus por todas as formas de governo e estrutura humana que ele permitiu graciosamente para preservar a verdade do Evangelho durante séculos de escuridão. Mas, agora, quando estamos no limiar de um “admirável mundo novo” (ou, talvez, “um terrível mundo novo”) de tecnologia e invenções que levarão a humanidade a um destino que ninguém consegue prever, precisaremos de uma direção mais capaz, mais onisciente, mais sábia.
A grande pergunta é: estamos dispostos a abrir mão de nossas agendas, projetos, opiniões, planos, sistemas de segurança e zonas de conforto? Será que podemos confiar na capacidade do Espírito Santo de dirigir a igreja e a nossa atuação nela? Em que momento abriremos mão do controle da aeronave e permitiremos que o Espírito Santo assuma a direção? Será que já estamos suficientemente cansados do nosso estilo de governo e dos pífios resultados de tantos esforços despendidos na obra do Senhor? No final das contas, como podemos ser dirigidos pelo Espírito?
Acho que nenhuma mensagem escrita tenha mudado tanto minha vida quanto o pequeno livreto Espaço para Deus, escrito por Henri Nouwen. Tenho lido, relido, estudado, sublinhado, pregado e ensinado sua mensagem incontáveis vezes, e nunca me canso de voltar a lê-la. O tema central é como criar um espaço em nossa vida corrida neste mundo moderno para ouvir melhor a voz de Deus. Acho que não existe hoje prioridade maior para todos os cristãos do que essa.
Dez anos atrás, fui impactado fortemente pelo livro Experiências com Deus de Henry T. Blackaby e Claude V. King. Chegamos a publicar um artigo extraído desse livro na última edição do primeiro ano de publicação da Revista Impacto. A frase que contém a verdade explosiva desse livro é a seguinte: “Observe onde Deus está agindo e junte-se a ele!”.
A grande promessa para todos que nascem de novo como filhos de Deus é que seremos guiados pelo Espírito de Deus (Rm 8.14). Se recebermos a seiva da videira, teremos o mesmo tipo de vida que ela tem. A videira é Jesus, e ele vivia constantemente orientado e alimentado pelo Pai. Portanto, a salvação nos traz muito mais do que a promessa de vida eterna depois da morte. Traz-nos uma vida controlada, nutrida e dirigida pelo Espírito hoje!
À medida que colocarmos nossa vida no altar, abrirmos mão de nossas agendas e planos e dispormo-nos a ouvir a voz mansa e suave de Deus, começaremos a ver como a direção do Espírito é prática. Funciona! Mas exige muito mais dependência de Deus e confiança nele do que temos costume de praticar, e isso nos assusta. Porém, ao mesmo tempo, estimula e revigora porque a vida deixa de ser previsível e passa a ser surpreendente e excitante.
Qual é a origem de suas ações?
Para experimentar esse novo estilo de vida, logo descobriremos que os momentos passados em oração são muito mais produtivos do que tempo gasto em planejamento extenuante e meticuloso. Muitas vezes, a oração parecerá seca, fria e improdutiva, mas, se perseverarmos, encontraremos instantes de grande lucidez, e dicas fundamentais vindas do trono nos trarão orientação preciosa e imprescindível.
Muito mais importante do que nossas ações é quem ou o que nos leva a realizá-las. Pedro e os outros discípulos lançaram redes, a noite inteira, sem pegar nada. Bastou Jesus dar ordens para lançar a rede que os barquinhos transbordaram de peixes. Quantos cegos poderiam lavar-se no tanque de Siloé e continuar cegos do mesmo jeito? Certamente, a água de lá não tinha nenhuma propriedade miraculosa. Mas quando Jesus mandou o cego lavar os olhos ali e tirar o barro que ele colocara sobre os olhos, ele voltou vendo (Jo 9.7-11)! Não se tem notícia de que nenhum outro leproso além de Naamã, o sírio, tenha sido curado ao banhar-se sete vezes no Rio Jordão, mas, quando ele agiu em obediência à ordem de Eliseu, foi completamente curado!
Poderíamos continuar essa lista infinitamente, mas, com certeza, não é necessário. Será que o motivo de tanta esterilidade em nosso ministério não é a falta dessas ordens divinas na origem de nossas atividades? Ao mesmo tempo, quantas vezes temos ouvido ou sentido pequenos impulsos ou desejos vindos do Espírito e deixado de obedecê-los por pensarmos serem bobagens insignificantes?
Jesus está voltando!
Creio que a glória desta última casa será muito maior do que a da primeira! Que a igreja gloriosa que receberá Jesus será muito mais formosa e linda do que a igreja descrita em Atos! Creio também que estamos começando a sentir a atração misteriosa e maravilhosa do próprio Senhor ressurreto que está preparando-se para voltar. Como um grande ímã eletromagnético vindo dos espaços siderais, ele está aproximando-se da Terra a uma velocidade estonteante, e todos os que são de ferro (da mesma natureza que ele, com o mesmo Espírito dele – crente de plástico não vai sentir nada!) sentirão essa forte atração, aumentando cada vez mais à medida que ele se aproxima.
Creio que começaremos a ver pessoas ligando-se umas às outras em alianças estratégicas que trarão muito fruto para o plano de Deus na Terra. Não serão alianças por motivos naturais, mas simplesmente porque o Espírito assim quer que aconteça. Creio que veremos sinais e maravilhas começando a pipocar no meio do povo de Deus de maneira anônima, com toda simplicidade e humildade, deixando toda a glória com Deus. Creio que a soma dos milhares e milhões de pequenos atos de obediência à voz do Espírito Santo, praticados ao redor do mundo por todos os nascidos pelo Espírito, começará a produzir um cataclismo de efeitos desproporcionais, incomodando os poderes religiosos e políticos deste mundo tenebroso. Creio que, quando o inimigo levantar-se, furioso, para tentar cortar a cabeça e a liderança dessa igreja, ele ficará totalmente confuso e aturdido por não achar qualquer liderança humana. Será uma praga gloriosa, irradiando e propagando-se sobre toda a face da Terra, incontrolável, invencível.
O amor de Deus cobrirá a Terra como as águas cobrem o mar. Amém! Que assim seja! Ora, vem, Senhor Jesus!
por Harold Walker
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