Por: Angelo Bazzo
Você sabia que a mediocridade pode levar mais pessoas para o inferno
do que a imoralidade? Você duvida? Pense nisto: as pessoas que vivem em
guerra franca contra a santidade de Deus têm mais consciência de seus
pecados e fraquezas e, por esse motivo, têm mais chances de responder
com arrependimento a um chamado de Deus do que aquelas que se posicionam
a favor do Senhor, mas levam uma vida de total mornidão.
Embora extremamente comum na igreja, a mornidão é um estado que não
combina nem um pouco com o cristianismo e o chamado de Jesus para
segui-lo. É exatamente essa condição que tem gerado, nos nossos dias,
“cristãos pela metade”, pessoas que não estão nem doentes nem saudáveis,
nem frias nem avivadas, nem fortes nem fracas. Permanecer acomodado
nesse status quo pode parecer inofensivo, mas, na verdade, constitui um
dos maiores inimigos do povo de Deus, porque paralisa sutilmente o
desejo do coração do Pai: que seus filhos vão além.
“Ir além” tem a ver com prosseguir, com caminhada,
com jornadas. E Deus é um Deus de jornadas. Ele sempre teve um alvo
final e para isso trabalha e tem trabalhado na História com o objetivo
de levar-nos a um glorioso fim. Em toda a Escritura, podemos ver
convites e alertas de Deus chamando diversos homens, em diversas épocas,
para prosseguir e ir além, para chegar à reta final. Veremos agora
algumas “tríades” ou “sequências de três” que aparecem em toda a Bíblia e
que nos ensinam sobre esse chamado comum a todo cristão.
Os Patriarcas
Deus chamou Abraão para realizar seu desejo eterno de formar um povo.
Só que isso não aconteceu na vida de Abraão. Foi necessário vir Isaque
e, depois, Jacó. Foi somente em Jacó que as 12 tribos (12 na Bíblia nos
fala frequentemente sobre o Reino de Deus) tornaram-se realidade.
Quando pensamos em Abraão, Isaque e Jacó, devemos lembrar que foram,
literalmente, um pai, um filho e um neto. Nessa sequência de três
gerações, foi somente na geração dos netos que o povo de Israel foi
constituído. Se com Israel, naqueles dias, foi assim, entre nós não será
diferente. Nada romperá em nossa geração se não estivermos ligados,
aliançados com as gerações anteriores. Muitas vezes, o que mais
desejamos é romper com o nosso passado, enquanto Deus quer que nos
unamos com aqueles que vieram antes de nós a fim de somar as revelações
de cada geração anterior com as atuais (Sl 33.11).
Abraão é o exemplo de uma geração desbravadora, que entrou no novo de
Deus. Ele é como o pai de um novo mover de Deus na Terra. Assim como
ele, houve vários irmãos, alguns que já morreram e outros que estão bem
velhos, que iniciaram um novo rumo do mover de Deus no Brasil. Eu
poderia citar o nome de muitos aqui, mas desejo apenas que você pense em
alguns de 80, 90 e, até mesmo, 100 anos de idade que iniciaram coisas
novas em nossa nação e no mundo. Esses foram como um Abraão, deixando de
lado tudo o que lhes era comum e partindo para desbravar algo novo.
Já Isaque representa aquela figura que dá continuidade ao trabalho do
pai. Ele é mais pacífico, não precisou enfrentar tantas lutas quanto
seu pai, pois o caminho já estava mais desbravado. É, também, uma figura
de Jesus, porque obedece a tudo o que o Pai falou. Sua missão não foi
inventar nada novo, mas obedecer e permanecer naquilo que o Pai lhe
ordenara. Da mesma forma, a Geração de Isaque não faz nada novo, mas,
com um espírito de obediência e constância, mantém a chama do testemunho
acesa.
Finalmente, em Jacó, um homem totalmente perdido, cheio de erros, que
não segue o estilo do pai, posso ver a minha geração e, até mesmo,
minha própria vida. Os três patriarcas formam uma parábola sobre
identidade e geração, pois o nome de cada um tinha um significado ligado
à sua missão. Jacó tinha uma identidade toda defasada, com inúmeras
falhas, assim como acontece comigo e com a minha geração. Temo-nos
perdido em relativismos e homossexualidade. Somos uma geração com mente
líquida, sem absolutos, que não sabe relacionar-se com o próximo porque
passa horas diante de um televisor.
Porém, há algo interessante na trajetória de Jacó. Em Gênesis 28,
vemos como Jacó recebeu a visão da casa de Deus, mostrando a ligação
entre o céu e a terra. É obvio que esse neto, totalmente fora do padrão
do avô e do pai, não merecia essa revelação; mesmo assim, foi dada a ele
por pura graça divina.
No Salmo 24, o salmista fala de uma geração santa que busca a face do
Deus de Jacó. Pergunto-me por que Davi não citou “o Deus de Abraão” ou
“o Deus de Isaque”? Creio que o motivo de associar Jacó com “santidade”,
mesmo sendo ele quem foi, é porque a geração de mãos limpas e coração
puro, que vai levantar os portais eternos de suas almas para receber o
Rei da glória na segunda vinda, é uma geração que buscará a face de Deus
como Jacó buscou. E como Jacó buscou a face de Deus? Até mancar, até
ser marcado. Deus quer marcar esta geração atual apesar de ter o passado
cheio de erros e falhas, porque, onde abundou o pecado, superabundou a
graça.
Somos chamados como geração atual para ir além,
sabendo que, mesmo sendo pecadores, somos totalmente amados por Deus.
Ele quer nos dar a visão de sua casa, quer que a somemos com a visão e
revelação dos nossos pais (aqueles que vieram antes de nós), para que
sejamos animados a ir além como geração e buscar a sua face, como Jacó a buscou.
A Geografia Bíblica
Existem três lugares geográficos na história do povo de Israel que,
além de aparecerem frequentemente, representam regiões espirituais na
nossa jornada pessoal e na caminhada coletiva do Corpo de Cristo. São
eles: o Egito, o Deserto e a Terra Prometida.
O Egito representa o mundo e a vida no pecado. Faraó representa
aquele que escraviza as pessoas no pecado – Satanás. Após a escravidão
no Egito, é preciso passar pelo Deserto, um lugar intermediário entre o
Egito e a Terra Prometida. Durante a peregrinação do povo de Deus no
deserto, foram-lhe revelados a Palavra de Deus e o modelo do
tabernáculo. Apesar de ser um lugar de provação, é no deserto que Deus
tem uma oportunidade singular de falar com seu povo.
O destino final é a Terra Prometida. O propósito de sair do Egito é
chegar lá. É também o lugar onde a lei (que foi recebida no deserto)
deveria ser plenamente vivida. Muitas ordenanças recebidas no deserto
não podiam ser praticadas no deserto, como, por exemplo, a celebração da
Festa dos Tabernáculos e o estabelecimento do lugar único para cultuar a
Deus (Dt 12). A terra é um lugar onde tudo o que foi aprendido no
deserto seria praticado, onde Deus reinaria sobre seu povo.
Olhando para essas figuras, costumo me perguntar: em que ponto da
minha jornada com o Senhor eu estou agora? Certamente, não estou no
Egito, pois o Senhor, nosso Libertador, com mão forte e braço estendido,
soberanamente libertou-me da escravidão a Satanás. Mas, tão certo
quanto isso, posso afirmar que também não estou vivendo plenamente na
prática do Reino. E isso não só se aplica a mim, mas vejo que o povo de
Deus em geral também não tem entrado, por completo, na sua herança. Não
temos experimentado a plenitude da bênção de Deus como povo; não estamos
em avivamento, não temos a “normalidade” da igreja de Atos.
Será que é correto nos contentarmos em ser “livres do pecado”? Alguns
não entendem que ser livre do pecado é conhecer apenas 50% da
santidade. Ser santo não é apenas ser separado do pecado, mas também ser
totalmente separado para Deus. Ser povo de Deus não é só sair do Egito,
mas entrar na Terra. Não devemos fazer parte da geração que morreu no
deserto. Somos chamados para ir além, para não nos contentar com o
deserto ou com a vida nesse mundo, mas para ansiar pelo propósito final:
a entrada na Terra Prometida, a prática do Reino de Deus.
O Tabernáculo
Na epístola aos Hebreus, Cristo é revelado como a realidade da qual o
tabernáculo era figura. Nossa experiência prática de Cristo tem relação
com as três partes do tabernáculo: Átrio, Santo Lugar e Santo dos
Santos.
A experiência do átrio fala sobre a nossa conversão. Nele, havia o
altar de holocausto, representando a Cruz de Cristo, e a bacia de bronze
para os sacerdotes se lavarem, representando o batismo nas águas.
A experiência do Santo Lugar indica o batismo no Espírito Santo e a
experiência com a Palavra e a oração. Cada uma dessas experiências é
representada por um móvel específico dentro do Santo Lugar. O candelabro
continha fogo e óleo, que são figuras do Espírito Santo, e que aponta
tanto para o batismo no Espírito, quanto para as demais experiências com
os dons. A mesa dos pães representa a experiência com a Palavra, uma
vida devocional, o prazer de meditar diariamente na Palavra e ter novas
revelações sobre Jesus nas Escrituras. O altar de incenso fala sobre uma
vida de intercessão.
Todas essas experiências, por melhores que sejam, são um meio para um
fim, não um fim em si mesmas. Poucos cristãos, contudo, encaram-nas
dessa forma, e alguns nem mesmo chegam a viver a realidade do Santo
Lugar, como o batismo no Espírito Santo ou a verdadeira iluminação da
Palavra de Deus. A verdade é que o alvo de Deus é conduzir-nos ao Santo
dos Santos. Ele nos chama para ir além, além da conversão, além, também,
do batismo no Espírito, além da experiência da Palavra ou da oração
como algo em si mesmo. Fomos chamados para ter a experiência do Santo
dos Santos – o lugar onde a glória de Deus está. Fomos chamados para ir
além da experiência reformada, do encontro com a realidade da cruz e da
graça. Fomos chamados para ir além da experiência pentecostal e dos dons
do Espírito Santo. A última geração vai descobrir, na prática, a
diferença entre a unção do Espírito e a visão da glória de Deus.
Precisamos ir além e ver Deus face a face.
As Festas Bíblicas
Outra tríade interessante é das festas do povo de Israel. Deus
ordenou que todos subissem três vezes ao ano para Jerusalém para
celebrar as festas do Senhor. Se você examinar o significado das três
viagens ou celebrações, verá que correspondem às três partes do
tabernáculo ou às três experiências na vida cristã.
A primeira viagem do ano era para comemorar a festa da Páscoa, que
representava a saída do povo do Egito e, consequentemente, a conversão. A
segunda festa, Pentecostes, simboliza a entrega da Lei no deserto e tem
relação com o batismo no Espírito Santo (a lei de Deus em nosso
coração). A terceira festa, a Festa de Tabernáculos, corresponde à
Segunda Vinda de Cristo, quando o tabernáculo de Deus estará entre os
homens.
Na história da Igreja, vemos que, após um longo período de
decadência, que se estendeu aproximadamente do século 2 ao século 15,
Deus restaurou seu testemunho seguindo a ordem das três festas. Com
Lutero e os outros reformadores, a realidade da Páscoa foi restaurada
por meio da doutrina da justificação. Durante um longo período, a
salvação, a graça e a cruz foram enfatizadas. Nos movimentos pentecostal
e carismático, especificamente no século 20, houve a restauração da
realidade da Festa de Pentecostes. Durante esse período, praticamente
todas as denominações foram tocadas pelo Espírito Santo, e voltou a
ênfase da primeira igreja no batismo no Espírito Santo, no dom de
línguas, de cura e em vários outros.
Hoje em dia, existem igrejas para cada uma dessas festas. As igrejas
mais históricas, por exemplo, enfatizam a experiência da Páscoa. Já as
igrejas pentecostais, como o próprio nome diz, enfatizam mais as
experiências do Pentecostes, com o mover do Espírito. Mas é chegado o
tempo de irmos além, de vermos a geração da Festa de Tabernáculos,
homens e mulheres que vivem em prol da segunda vinda de Cristo, que
anseiam pelo dia em que o tabernáculo de Deus estará entre os homens.
Ir Além no Novo Testamento
Além de todas essas figuras que aparecem no Velho Testamento,
encontramos em Filipenses três passagens que mostram claramente esse
anseio de Deus, sob três perspectivas diferentes.
Deus nos leva além
“Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
Veja que Paulo afirma que Deus começou algo naqueles irmãos, e o próprio
Deus os levaria além. Assim, podemos ver por que ir além é tão
importante, pois o próprio Deus está indo além. Você quer acompanhá-lo?
O homem indo além
“Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa
faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as
que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do
chamado celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13,14).
Temos aqui a biografia de um homem de Deus, o sentimento de um homem
cheio do Espírito. O resultado de sua vivência com o Senhor foi
tornar-se um homem que, como Deus, estava prosseguindo. Deus estava indo
além, e Paulo o estava acompanhando. Muitos cristãos estão totalmente
presos ao passado, tentando trazer Deus de volta ao passado para fazer
tudo dar certo como no tempo que já passou, enquanto ele está em um novo
movimento de sua graça. Isso nos mostra que sempre é tempo de
prosseguir, avançando para o alvo.
Deus e o homem, juntos, indo além.
“Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem
efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”
(Fp 2.12,13).
Somos chamados para ir além na nossa salvação, desenvolvendo e crescendo
nesse presente que nos foi dado por Deus. E qual o motivo de fazer
isso? Porque Deus o está fazendo. Devemos ir além, em nossa salvação,
porque Deus está indo além. Essa é uma caminhada conjunta.
Portanto, irmãos, somos chamados, como Jacó, para lutar com Deus em
oração a fim de podermos contemplar a sua glória no Santo dos Santos e
sermos capacitados para possuir a Terra Prometida – a prática do Reino
de Deus. Somente assim, estaremos prontos como povo de Deus para
celebração da Festa de Tabernáculos: a Volta de Jesus.
“Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou
prosseguindo, procurando alcançar aquilo para que também fui alcançado
por Cristo Jesus” (Fp 3.12).
Os Patriarcas: ABRAÃO – ISAQUE - JACÓ
Geografia Bíblica: EGITO - DESERTO - TERRA PROMETIDA
O Tabernáculo: ÁTRIO - SANTO LUGAR - SANTO DOS SANTOS
As Festas Bíblicas: PÁSCOA - PENTECOSTES - TABERNÁCULOS
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Em Busca de uma Geração que vai além
Posted by Angelo Bazzo on 02:26 | No comments
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