Meu pai era um pastor presbiteriano, e minha mãe, uma cristã muito dedicada com uma linda voz consagrada ao Senhor. Quando jovem, decidi que seria um missionário, um missionário que se sobressaísse. Eu queria brilhar como missionário extraordinário. Terminei meu curso universitário e me saí muito bem. Formei-me e me senti um tanto orgulhoso do título “bacharel” que agora constava depois do meu nome.
Estava determinado a dominar os idiomas indianos que teria de aprender; pois não queria que nada, absolutamente, servisse de empecilho para que eu me tornasse um grande missionário. Era essa minha ambição. Talvez não fosse um desejo totalmente carnal, mas em grande parte era. Eu amava o Senhor e queria servi-lo – e servi-lo de forma extraordinária –, no entanto meu ego estava na raiz da minha ambição.
Meu pai tinha um grande amigo, um colega pastor, cujo imenso desejo de ser missionário nunca fora realizado. Ele tinha grande interesse em mim e estava encantado que o filho do seu grande amigo tinha planos de ir à Índia como missionário. Ele me amava, e eu também o amava e admirava.
No dia em que subi a bordo do navio em Nova York, para empreender a missão da minha vida na Índia, encontrei no meu camarote uma carta endereçada a mim. Reconheci a caligrafia desse amigo do meu pai. Abri a carta, que não era muito grande, e encontrei, em síntese, a seguinte mensagem: “Não deixarei de orar por você, caro John, enquanto não estiver cheio do Espírito Santo”.
As palavras mexeram com meu orgulho, e fiquei muito bravo. Amassei a carta e joguei-a num canto do camarote. Subi ao convés do navio com espírito muito agitado. Imagine só que absurdo: implicar que eu não estava cheio do Espírito! Aqui estava eu, embarcando como missionário, determinado a ser um excelente missionário – e ele tinha a coragem de insinuar que eu não estava equipado adequadamente para a obra!
Andei agitado para cima e para baixo naquele convés, uma batalha ardendo no meu interior. Senti um enorme desconforto. Eu amava o homem que me escrevera aquele bilhete. Sabia da vida santa que levava, e, lá no meu íntimo, desconfiava que ele podia estar com a razão: eu não tinha mesmo condições de ser missionário.
Depois de algum tempo, voltei para o camarote e fiquei de joelhos para procurar a carta amassada. Peguei-a do chão e alisei-a; li o conteúdo novamente, vez após vez. Ainda me senti irritado pelas palavras, porém a convicção crescia dentro de mim de que esse homem estava certo e eu, errado. Esse processo continuou durante dois ou três dias, deixando-me completamente agoniado. Tudo isso nada mais era do que a bondade do Senhor atendendo às orações do amigo do meu pai, que certamente havia batalhado em oração e tomado posse da vitória em meu favor.
Finalmente, quase em desespero, clamei ao Senhor para me encher com o Espírito Santo. No mesmo instante, parecia que as nuvens escuras haviam desaparecido por completo. Pude ver a mim mesmo e a minha ambição egoísta. Tive uma batalha até o final da minha viagem no navio, mas, bem antes de chegar ao meu destino, decidi firmemente que, fosse qual fosse o preço, eu realmente precisava ser cheio do Espírito.
O segundo momento culminante foi quando senti desejo de dizer ao Senhor que estava disposto até a ser reprovado nos meus exames nos idiomas na Índia e a ser um missionário trabalhando em silêncio e anonimato; que eu faria qualquer coisa e seria qualquer coisa, mas precisava receber o Espírito Santo a qualquer custo.
Num dos primeiros dias na Índia, enquanto estava hospedado com um outro missionário experiente, saí com ele para um culto ao ar livre. O missionário pregou, e fui informado de que ele estava falando a respeito de Jesus Cristo como o Salvador que liberta do pecado.
Depois de terminada a pregação, um homem com aparência ilustre, falando bom inglês, perguntou ao missionário se ele mesmo já tivera tal experiência de salvação do pecado. A pergunta foi direto ao meu coração, porque, se a mesma pergunta tivesse sido dirigida a mim, eu teria sido obrigado a confessar que Jesus ainda não me salvara totalmente, já que ainda havia pecado na minha vida.
Reconheci que teria sido uma terrível desonra ao nome de Cristo se eu fosse obrigado a confessar que estava pregando Jesus, proclamando aos outros que era um Salvador perfeito, enquanto eu mesmo não estava liberto.
Voltei ao meu quarto e me tranquei lá dentro. Disse para o Senhor que teria que acontecer uma de duas coisas: ou ele me libertava de todos os meus pecados, especialmente daquele que me atormentava constantemente, ou eu teria de voltar para minha terra e buscar uma outra atividade lá. Declarei que não podia ficar diante das pessoas para pregar o Evangelho enquanto eu mesmo não pudesse testemunhar do seu poder e eficácia na minha vida.
Fiquei lá durante algum tempo, enfrentando essa questão e reconhecendo que era extremamente razoável que tomasse tal posição. O Senhor me assegurou que era capaz e desejoso de me libertar de todo o pecado e que realmente era sua vontade que eu estivesse na Índia. E, de fato, ele me libertou de tal forma que nunca mais duvidei da sua obra completa. Posso agora ficar diante de quem quer que seja e testemunhar, sem hesitar, da vitória que recebi. É meu prazer hoje testificar desse fato e contar a todos da maravilhosa fidelidade de Cristo meu Senhor e Salvador.
John Hyde (1865-1912) foi missionário durante quase vinte anos na Índia. Foi chamado “O Homem que Orava”, pois a oração passou a ser sua ocupação principal. Suas orações produziram resultados impressionantes: um avivamento em 1910 na Índia e muitas conversões diárias.
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