“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro” (Jo 17.3). Sim, a oração nos faz descobrir mais de Deus, e esta é a maior descoberta da alma. Os homens ainda clamam: “Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! então me chegaria ao seu tribunal” (Jó 23.3).
O cristão ajoelhado sempre o “acha” e é achado por ele. A visão celestial do Senhor Jesus cegou os olhos de Saulo de Tarso na sua queda, mas ele nos conta que, mais tarde, quando estava orando no templo em Jerusalém, caiu em êxtase e viu Jesus: “... vi o Senhor” (Atos 22.18, NVI). Foi então que Cristo lhe deu a grande comissão de ir para os gentios.
A visão é sempre uma precursora de chamado e decisões ousadas. Foi assim com Isaías. “Eu vi o Senhor...alto e sublime, e o seu séqüito enchia o templo” (Is 6.1). O profeta, aparentemente, estava no templo orando quando isso aconteceu. Sua visão também foi um prelúdio para uma chamada para o serviço: “Vai...” (v.9). Observe que não se pode ter uma visão de Deus sem orar. E onde não há visão, o espírito perece.
Será que era a mesma sensação do salmista de antigamente quando clamou: “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa” (Sl 62.5)? Creio que grande parte do nosso fracasso na oração se deve ao fato de não termos investigado “o que é a oração”. É bom estar consciente de que sempre estamos na presença de Deus. É melhor ainda contemplá-lo em adoração. Mas o melhor de tudo é ser íntimo com ele como um amigo – e a oração é exatamente isso!
Verdadeira oração no nível mais alto e apurado procede de um espírito sedento por Deus – somente por Deus. Oração autêntica vem dos lábios de quem fixou o coração nas coisas lá do alto. Que homem de oração era Zinzendorf! Por quê? Porque buscava mais o Doador do que os dons. Ele dizia: “Tenho apenas uma paixão: é ele, somente ele”.
É claro que sabemos que Deus nos convida a levar nossos pedidos a ele. Ninguém tem dificuldade em obedecer-lhe nesse aspecto, e podemos ficar em paz na certeza de que a oração tanto agrada a Deus quanto supre todas as nossas necessidades. Mas só uma criança muito estranha buscaria a presença do pai apenas quando desejasse algum presente da parte dele! E não ansiamos, todos nós, por um nível de oração mais elevado do que este da simples petição? O que é necessário para alcançá-lo?
Parece-me que somente dois passos são necessários – ou seria melhor dizer dois pensamentos? Em primeiro lugar, precisa haver uma percepção da glória de Deus e, depois, da sua graça.
Não seria melhor, então, que antes de depositar nossas petições diante de Deus, nos voltássemos primeiro a meditar sobre sua glória e, depois, sobre sua graça – pois ele nos oferece tanto uma quanto a outra. Precisamos elevar nosso espírito a Deus. Coloquemo-nos, por assim dizer, na presença de Deus e dirijamos nossa oração ao Rei dos reis e Senhor dos senhores, ao único que tem imortalidade e que habita na luz inacessível; ao qual seja honra e poder sempiterno (1 Tm 6.16). Rendamos a ele adoração e louvor por causa de sua grandiosa e extraordinária glória. Consagração não é suficiente. Precisa haver adoração.
“Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos”, exclamam os serafins; “toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3). “Glória a Deus nas maiores alturas”, proclama uma “multidão da milícia celestial” (Lc 2.13,14). Entretanto alguns de nós tentam ter intimidade com Deus sem parar para “tirar as [nossas] sandálias dos [nossos] pés” (Ex 3.5).
De fato, recebemos o direito de nos aproximar da sua glória com ousadia. Nosso Senhor não pediu em oração que seus discípulos pudessem ver sua glória? (João 17.24). Por quê? E por que “toda a terra está cheia da sua glória”? O telescópio revela a glória infinita. O microscópio revela a glória minuciosa, perfeita nos mais minúsculos detalhes. Até o olho nu consegue ver suprema glória na paisagem, no brilho do sol, no mar e no céu.
O que significa tudo isso? Essas coisas são apenas uma revelação parcial da glória de Deus. Não foi um desejo de autopromoção que levou nosso Senhor a orar: “Pai... glorifica a teu Filho” e ”agora, glorifica-me, ó Pai” (João 17.1,5). O nosso amado Senhor queria que compreendêssemos sua infinita confiabilidade e seu poder ilimitado de tal modo que pudéssemos chegar a ele em simples fé e confiança.
Prenunciando a vinda de Cristo, o profeta declarou que “a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá” (Is 40.5). Precisamos agora obter um vislumbre daquela glória antes de podermos orar de maneira correta. Por isso, nosso Senhor disse: “Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome” (Lc 11.2). Não há nada como um vislumbre de glória para afastar o medo e a dúvida.
Esse ponto é de uma importância tão tremenda que nos aventuraremos a deixar aqui algumas sugestões para ajudar nesse sentido. Algumas pessoas começam o dia olhando para o céu e dizendo: “Glória seja ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”. A oração: “Ó Senhor Deus santíssimo, ó Senhor Todo-poderoso, ó Salvador santo e misericordioso!” geralmente é suficiente para trazer sobre a alma uma solene reverência e um espírito de santa adoração. Uma estrofe de um hino pode servir ao mesmo propósito:
Como brilha a tua majestade.
Como é belo o teu santo assento
Nas profundezas da brilhante luz!
Quão maravilhoso, quão belo
Deve ser ver-te como tu és;
Teu saber infinito, teu poder ilimitado
Tua pureza sem par.
Senhor meu Deus, quando eu maravilhado,
Fico a pensar nas obras de tuas mãos
O céu azul de estrelas pontilhado
O teu poder mostrando a criação
Então minh´alma canta a ti Senhor
Grandioso és tu! Grandioso és tu!
Grandioso és tu! Grandioso és tu!
Isto nos leva às alturas celestiais, como também as palavras seguintes:
Tuas obras louvam teu nome com fervor
Santo, Santo, Santo, justo e compassivo,
És Deus triuno, excelso criador! (H.Ev.104)
É preciso gritar, e gritar com freqüência: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lc 1.46,47). Podemos captar o espírito do salmista e cantar: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor Deus meu... estás vestido de glória e de majestade” (Sl 104.1). Quando é que aprenderemos que “no seu templo todos clamam Glória!” (Sl 29.9). Clamemos nós também: Glória!
Tudo o que ele é, e tudo o que ele faz é glória. A sua santidade é “gloriosa” (Êx 15.11). O seu nome é “glorioso” (Dt 28.58). A sua obra é “gloriosa” (Sl 111.3). O seu poder é “glorioso” (Cl 1.11). A sua voz é “gloriosa” (Is 30.30).
Tudo o que é brilhante e belo,
Todas as criaturas, grandes e pequenas,
Todas as coisas sábias e maravilhosas,
Todas elas foram criadas pelo Senhor Deus para a sua glória.
Acredite, quanto mais tivermos da glória de Deus, menos iremos atrás de seus dons. Não haverá glória para nós somente naquele dia “quando vier para ser glorificado nos seus santos” (2 Ts 1.10), mas também aqui e agora – hoje. Ele quer que sejamos participantes de sua glória. Não foram estas as palavras do próprio Senhor? “Dei-lhes a glória que a mim me deste”, diz ele (Jo 17.22). E qual foi a ordem de Deus? “Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória do Senhor vai nascendo sobre ti.” Não, é ainda mais do que isso: “a sua glória [do Senhor] se verá sobre ti”, diz o inspirado profeta (Is 60.1,2).
Deus deseja que as pessoas digam sobre nós o que Pedro disse a respeito dos discípulos da igreja primitiva: “sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pe 4.14). Não seria isto uma resposta à maioria das nossas orações? Poderíamos pedir algo melhor? Como podemos obter essa glória? Como é que vamos refleti-la? Somente como resultado de oração. É quando nós oramos que o Espírito Santo recebe as coisas de Cristo e as revela a nós (Jo 16.15).
Foi quando Moisés orou: “Rogo-te que me mostres a tua glória”, que ele não somente viu, mas também participou de uma parcela daquela glória, pois seu rosto brilhou com a luz que emanava dele (Ex 33.18; 34.29). E quando nós também contemplarmos a “glória de Deus na face de Cristo” (2 Co 4.6), não só veremos um vislumbre daquela glória, mas um pouco dela passará a brilhar através de nós.
Essa é a verdadeira oração e o mais sublime resultado dela. Não existe qualquer outra maneira de obter essa glória para que Deus seja glorificado em nós (Is 60.21). Quando pudermos declarar com João: “Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo 1.3), as pessoas também dirão de nós: “Eles estiveram com Jesus!”.
À medida que elevamos nosso coração em oração ao Deus vivo, recebemos a beleza da santidade, assim como uma flor fica linda por estar sob os raios do sol. O próprio Senhor não foi transfigurado enquanto orava? E a “aparência” (Lc 9.29) do nosso rosto também será transfigurada, e teremos nosso Monte de Transfiguração quando a oração ocupar seu devido lugar na nossa vida. As pessoas verão no nosso rosto “o sinal externo e visível de uma graça interior e espiritual”. Nosso valor diante de Deus e dos homens está na proporção exata em que revelamos a glória de Deus aos outros.
“O segredo do fracasso é olhar para os homens em vez de olhar para Deus. O sistema eclesiástico tremeu quando Martinho Lutero viu Deus. O ‘grande despertamento’ irrompeu poderosamente quando Jonathan Edwards viu Deus. A Escócia caiu prostrada quando John Knox viu Deus. O mundo se tornou a paróquia de um homem quando John Wesley viu Deus. Multidões foram salvas quando George Whitefield viu Deus. Milhares de órfãos foram alimentados quando George Müller viu Deus. E ele é ‘o mesmo ontem, hoje, e para sempre’.”
Já não é tempo de buscarmos uma nova visão de Deus – de Deus em toda a sua glória? Quem pode dizer o que acontecerá quando a igreja vir Deus? Mas não esperemos pelos outros. Procuremos essa visão da glória de Deus, cada um de nós por si mesmo, com o rosto desvendado e o coração puro.
“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8).
O Dr.Wilbur Chapman escreveu para um amigo: “Aprendi algumas lições importantes sobre a oração. Em uma de nossas missões na Inglaterra a frequência era muito pequena. Mas recebi um recado dizendo que um missionário americano...vinha trazer a bênção de Deus sobre o nosso trabalho por meio da oração. Ele era conhecido como ‘o homem que orava’ (John Hyde). Quase instantaneamente a maré mudou. O salão ficou lotado e, no meu primeiro apelo, cinquenta homens aceitaram Cristo como Salvador. Quando estávamos saindo, eu disse: ‘Sr. Hyde, peço-lhe que ore por mim’. Ele veio até o meu quarto, passou a chave na porta e ajoelhou-se; cinco minutos se passaram sem que uma sílaba saísse dos seus lábios. Eu podia ouvir meu coração latejando e as batidas do coração dele. Senti lágrimas quentes correndo pelo meu rosto. Eu sabia que estava com Deus. Então, com o rosto para cima, com as lágrimas escorrendo, ele disse ‘Ó Deus!’. Depois, por mais cinco minutos pelo menos, ele continuou em silêncio. Finalmente, quando sentiu que estava falando com Deus, jorrou da profundeza do seu coração petições pelos homens tais como nunca antes ouvira. Quando levantei-me dos meus joelhos, eu já sabia o que é a verdadeira oração. Acreditamos que a oração é poderosa e cremos nela agora como nunca antes.”
O Dr.Chapman costumava dizer: “Foi uma temporada de oração com John Hyde que me fez reconhecer o que é verdadeira oração... e gerou um anseio que dura até hoje de ser um verdadeiro homem de oração”. E Deus, o Espírito Santo, pode, de fato, nos ensinar.
Extraído de The Kneeling Christian (O Cristão de Joelhos).
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