Quando Jesus resolveu falar pra pescadores analfabetos, em pleno cenário político imperial romano, que comida boa mesmo não era nem peixe assado, nem tâmaras secas, a confusão se deu. O que poderia ser melhor do que um peixinho assado na fogueirinha à beira mar? Ou tâmaras secas, com azeitonas e um bom vinho no palácio? O que o estômago de um bom ser vivente em pleno começo de século poderia desejar? Outra coisa bem melhor, era essa a opinião do divisor da história ocidental.
Pois bem, o filho de Deus, nesse momento não poupou palavras para dizer que – melhor que uma tapioca na Sé aos domingos e um founde de chocolate no Le founde aos sábados – é comer ele e beber ele mesmo. Que escândalo particular! Parece não ter sido à toa que muitos discípulos de Cristo, deram meio volta e foram procurar um “líder espiritual mais sensato”. Esse estava indo longe demais não é mesmo? Não. Ele só estava indo profundo demais.
É bem provável que muitos entenderam essa frase como antropofagia no sentido literal da coisa. E falar de antropofagia para judeus, que nem comem carne de porco, é a mesma coisa que dizer que o teto está caindo: todo mundo corre. Mas nesse caso, alguns poucos até que ficaram. De alguma forma entenderam esse enigma que muito clero eclesiástico das igrejas de hoje ainda nem entende.
Jesus estava era falando que o seu reino agora estava acessível. Agora Deus estava tão perto do homem quanto um prato de feijão com arroz. Da mesma forma que quando nos alimentamos a comida faz parte do nosso corpo – de nós mesmos – o filho de Deus estava dizendo que ele e nós poderíamos ser um só. Juntos, como carne e osso. Sua vida poderia ser unir a nossa, de forma que nossa energia vital estivesse ligada totalmente a ele. Essa comida especial (o próprio Jesus) seria então a fonte da vida que nunca acabaria. E esse prato divino era muitosimples. Segundo a gastronomia: pão e vinho, segundo a ciência: carne e sangue.
A partir daquele momento qualquer trabalhador, ou até mesmo um pobrezinho poderia se alimentar do próprio Deus. A frase “se alimentar de Deus” ainda parece escandaloso? Pois é, não tem jeito mesmo. Essa idéia de que Deus está disponível a todos os que crêem e que pode, como a comida morar dentro do ser humano, é por demais tumultuosa. É difícil da nossa cabeça entender e das morais aceitar. Mas é isso mesmo, está lá na Bíblia, no livro de João, capítulo 6.
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