“O problema é que, fora do contexto do fascínio da ressurreição, toda oração se torna um ato de idolatria pelo qual Deus é reduzido a algo que podemos usar para atingir nossos objetivos, por mais nobres e úteis que sejam eles...”
Eugene Peterson em "Viva a Ressurreição".
“Naqueles dias, não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos.” Juizes 21.25.
Conheço um irmão que quando está pregando pergunta ao auditório se estes sabem qual é o primeiro mandamento. Quase todos respondem “amarás o Senhor teu Deus”, ou seja, quase sempre as pessoas erram.
O primeiro mandamento do Decálogo (dez mandamentos) é não ter outros deuses diante do Senhor (Êxodo 20.3), e foi exatamente este mandamento que os hebreus, tantas vezes, tiveram dificuldade de obedecer. Na verdade, eles foram levados em cativeiro para a Babilônia como juízo em relação à sua idolatria.
Idolatria é, simplesmente, adorar uma criatura ao invés do criador (Romanos 1.25). Existe muitos motivos que podem ser levantados como o motivo de Deus odiar tanto a idolatria. E eu gostaria de propor um motivo que estou pensando nesses dias.
Em Gênesis temos o registro da criação do homem e podemos ler que Deus ao criá-lo disse que “era muito bom”. Antes deste momento, tudo aquilo que Ele havia criado recebia um elogio de “bom”, somente o homem recebeu um acréscimo de “muito” bom. Creio que esse “muito” é aquilo que nos diferencia das demais criaturas de Deus. Somos a obra prima de Deus nesta Terra e ela nos foi dada para a dominarmos (dominar e destruir não são sinônimos).
Com isso em mente, eu gostaria de propor o pensamento de que “idolatria é desumanizar o homem”. Ou seja, quando nos prostramos a algo menor do que nós acabamos rebaixando nossa humanidade e igualando nossa existência a seres inanimados ou irracionais. Falando sobre idolatria, vemos o salmista dizendo “Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles confiam” (Salmo 115).
Pior do que sermos rebaixados a meros objetos inanimados, existe o fato de que a idolatria rebaixa também ao próprio Deus. Em Êxodo vemos o povo pedindo para que Arão fizesse um deus para eles (como se faz um deus?). Então Arão faz um bezerro de ouro - objeto inanimado - e declara ao povo “isto é o teu deus que te tirou da terra do Egito” (Êxodo 32).
Deus odeia a idolatria porque ela é uma falsificação de sua verdadeira identidade, e não só isso, ela é a arma pela qual eu e você deixamos de ser verdadeiramente humanos e passamos a viver como meros objetos. Você conhece a expressão “mulher objeto”?
Idolatria é fazer um deus para nós mesmos. Blaise Pascal disse “Deus criou o homem à Sua imagem e este retribuiu o favor”. Será que em nossos dias com essa teologia de prosperidade não temos criados nossa própria versão pós-moderna do bezerro de ouro?
Eugene Peterson argumenta: “Idolatria é usar Deus em lugar de adorar a Deus”. Será que ao invés de nos encaixarmos nos planos de Deus temos orado para que Deus se encaixe em nossos planos? Será que não estamos vivendo uma nova versão de cativeiro babilônico em nossos dias?
Se tivermos liberdade para adorar a Deus da maneira que mais nos convêm, logo temos denominação para todos os gostos. Contudo, sempre pensei que a igreja serviria aos gostos de Deus e não o contrário. Sempre pensei que o povo de Deus tinha por objetivo agradá-lo ao invés de ser bajulado pela divindade.
Será que não podemos ser acusados de roubarmos a verdadeira identidade de Deus, ao mesmo tempo em que perdemos nossa própria identidade?
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