segunda-feira, 28 de junho de 2010

Visão Apostólica Para Israel e a Igreja

Posted by Angelo Bazzo on 18:54 | No comments



 A nossa visão (e esperamos que seja também a sua!) é cumprir a grande comissão dada por Yeshua (Jesus): “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8).

 Existe uma conexão óbvia entre a obra do Espírito Santo e a missão de evangelismo mundial. “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos quebrantados” (Is 61.1). Alguns querem experiências carismáticas, mas não querem envolver-se em evangelismo pessoal. Outros querem dirigir campanhas de evangelização como se fossem um negócio, sem as experiências sobrenaturais do Espírito Santo. Nenhum dos dois lados está correto. As duas coisas precisam funcionar em conjunto.

 Esses dois grandes mandatos – o Espírito Santo e o evangelismo – estão conectados a um terceiro mandato, o mandato de “Israel”. As palavras de Atos 1.8 foram uma resposta à pergunta dos apóstolos no sexto versículo: “Será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” Aqueles primeiros discípulos judaicos estavam com sua cronologia errada. O que estavam esperando não aconteceria naquele tempo (no primeiro século), mas há de acontecer neste tempo presente (no século 21). Yeshua nasceu com o destino claro de ser o Rei de Israel (Mt 2.6; Lc 1.32; Jo 18.37), e ele voltará, na Segunda Vinda, para cumpri-lo.

 A restauração do reino a Israel não acontecerá sem um avivamento enviado pelo Espírito Santo e o evangelismo mundial resultante. O reino de Yeshua vai desde Jerusalém até aos confins da terra. Batismo no Espírito Santo, evangelização do mundo e restauração do reino estão interligados. O movimento de oração, o movimento de missões e o movimento messiânico formam um cordão de três dobras.   

 Sem a restauração de Israel, é impossível compreender os tempos do fim. Assim como Yeshua subiu da Terra para o Céu, partindo de Jerusalém, da mesma forma será sua volta a Jerusalém. “Esse Yeshua que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). Seus pés logo repousarão sobre o Monte das Oliveiras de acordo com Zacarias 14.4: “Naquele dia estarão os seus pés sobre o Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente”.

 Yeshua é cabeça da Igreja e Rei de Israel. Seu reino está interligado com a restauração tanto de Israel quanto da Igreja. Alguns judeus querem a restauração de Israel sem a Igreja, e alguns cristãos querem a restauração da Igreja sem Israel. Entretanto, não é possível ter uma sem a outra.

 O batismo no Espírito Santo capacita-nos para a evangelização (At 1.8) e o avivamento mundiais (At 2.17). Avivamento e evangelismo produzem uma comunidade internacional de santos dedicados e adoradores (Ap 7.4-9). Essa gloriosa comunidade de santos é chamada de A Noiva. Quando ela estiver pronta para a volta de Yeshua, ele virá. “Porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou” (Ap 19.7).

 A comunidade de santos em Apocalipse 7 é dividida em dois grupos distintos: um é formado por Israel (v.4), e o outro é internacional (v. 9).
Então ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel (Ap 7.4).
Eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono (Ap 7.9).
 Chamamos isso de “a restauração dupla de Israel e da Igreja”. O remanescente de Israel e o da Igreja Internacional são unidos em um corpo espiritual. Entretanto, as Escrituras os descrevem como dois grupos identificáveis. A Noiva do Messias é formada por dois bandos ou acampamentos como a Noiva no livro de Cantares:
Por que quereis contemplar a Sulamita na dança de Maanaim?[C1]  [no original, dois acampamentos] (Ct 6.13)
 Essas duas partes, o judeu e o gentio, são unidas ao tornar-se “um novo homem” (Ef 2.15), sendo enxertadas na mesma oliveira (Rm 11.17).

 Romanos 11 menciona não só duas espécies de restauração, mas duas espécies de plenitude: uma para Israel (v. 12), e uma para os gentios (v. 25).
...quanto mais a sua plenitude [de Israel] (Rm 11.12).
...até que haja entrado a plenitude dos gentios (Rm 11.25).
 A restauração de Israel vem em duas etapas: primeiro física, depois espiritual (1 Co 15.46). A situação atual de Israel denota apenas uma restauração parcial, não a plenitude. A parte espiritual da restauração é o remanescente messiânico dentro de Israel. Esse remanescente crescerá até atingir os 144 mil e, finalmente, alcançará a plenitude quando “todo o Israel será salvo” (Rm 11.26).

 A plenitude de Israel será o avivamento nacional que logo acontecerá. Entretanto, tal avivamento depende da intercessão e do testemunho da Igreja internacional. É a plenitude da Igreja que produz a plenitude de Israel. “Veio endurecimento em parte a Israel ATÉ que haja entrado a plenitude dos gentios. E assim todo o Israel será salvo” (Rm 11.25,26).

 Se a plenitude da Igreja produz a plenitude de Israel, o que a plenitude de Israel haverá de produzir? A ressurreição dos mortos: “que será o seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos?” (Rm 11.15). A ressurreição dos mortos acontecerá na Segunda Vinda de Yeshua, no início de seu reino milenar.

 Podemos sintetizar a visão de Yeshua para Israel e a Igreja da seguinte forma: 1. batismo no Espírito Santo; 2. evangelização do mundo; 3. plenitude da Igreja Internacional; 4. restauração de Israel e 5. o Reino Milenar de Yeshua.

 Asher e Betty Intrater são judeus messiânicos, diretores de “Revive Israel Ministries”, uma equipe ministerial dedicada a buscar e estimular avivamento em Israel. São pastores de uma congregação chamada “Ahavat Yeshua” (Amor de Jesus). Este artigo tem direitos autorais e não pode ser copiado ou publicado sem permissão prévia de “Revive Israel”. Maiores informações e outros textos deste autor podem ser encontrados no site: www.revive-israel.org.

 



 


por Asher Intrater

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domingo, 27 de junho de 2010

ACEITAR A JESUS!?

Posted by Carolina Sotero on 08:20 | No comments


Nosso relacionamento com Cristo é uma questão de vida ou morte. O homem que conhece a Bíblia sabe que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que os homens são salvos apenas por Ele, sem qualquer influência por parte de quaisquer obras praticadas.

"O que devo fazer para ser salvo?", devemos aprender a resposta correta. Falhar neste ponto não envolve apenas arriscar nossas almas, mas garantir a saída eterna da face de Deus.

Os cristãos "evangelicais" fornecem três respostas a esta pergunta ansiosa: "Creia no Senhor Jesus Cristo", "Receba Cristo como seu Salvador pessoal" e "Aceite Cristo". Duas delas são extraídas quase literalmente das Escrituras (At 16:31; João 1:12), enquanto a terceira é uma espécie de paráfrase, resumindo as outras duas. Não se trata então de três, mas de uma só.

Por sermos espiritualmente preguiçosos, tendemos a gravitar na direção mais fácil a fim de esclarecer nossas questões religiosas, tanto para nós mesmos como para outros; assim sendo, a fórmula "Aceite Cristo" tornou-se uma panacéia de aplicação universal, e acredito que tem sido fatal para muitos. Embora um penitente ocasional responsável possa encontrar nela toda a instrução que precisa para ter um contato vivo com Cristo, temo que muitos façam uso dela como um atalho para a Terra Prometida, apenas para descobrir que ela os levou em vez disso a "uma terra de escuridão, tão negra quanto as próprias trevas; e da sombra da morte, sem qualquer ordem, e onde a luz é como a treva".

A dificuldade está em que a atitude "Aceite Cristo" está provavelmente errada. Ela mostra Cristo suplicando a nós, em lugar de nós a Ele. Ela faz com que Ele fique de pé, com o chapéu na mão, aguardando o nosso veredicto a respeito dEle, em vez de nos ajoelharmos com os corações contritos esperando que Ele nos julgue. Ela pode até permitir que aceitemos Cristo mediante um impulso mental ou emocional, sem qualquer dor, sem prejuízo de nosso ego e nenhuma inconveniência ao nosso estilo de vida normal.

Para esta maneira ineficaz de tratar de um assunto vital, podemos imaginar alguns paralelos; como se, por exemplo, Israel tivesse "aceito" no Egito o sangue da Páscoa, mas continuasse vivendo em cativeiro, ou o filho pródigo "aceitasse" o perdão do pai e continuasse entre os porcos no país distante. Não fica claro que se aceitar Cristo deve significar algo? É preciso que haja uma ação moral em harmonia com essa atitude!

Ao permitir que a expressão "Aceite Cristo" represente um esforço sincero para dizer em poucas palavras o que não poderia ser dito tão bem de outra forma, vejamos então o que queremos ou devemos indicar ao fazer uso dessa frase.

"Aceitar Cristo" é dar ensejo a uma ligeira ligação com a Pessoa de nosso Senhor Jesus, absolutamente única na experiência humana. Essa ligação é intelectual, volitiva e emocional. O crente acha-se intelectualmente convencido de que Jesus é tanto Senhor como Cristo; ele decidiu segui-lo a qualquer custo e seu coração logo está gozando da singular doçura de Sua companhia.

Esta ligação é total, no sentido de que aceita alegremente Cristo por tudo que Ele é.

Não existe qualquer divisão covarde de posições, reconhecendo-o como Salvador hoje, e aguardando até amanhã para decidir quanto à Sua soberania.

O verdadeiro crente confessa Cristo como o seu Tudo em todos sem reservas. Ele inclui tudo de si mesmo, sem que qualquer parte de seu ser fique insensível diante da transação revolucionária.

Além disso, sua ligação com Cristo é toda-exclusiva. O Senhor torna-se para ele a atração única e exclusiva para sempre, e não apenas um entre vários interesses rivais. Ele segue a órbita de Cristo como a Terra a do Sol, mantido em servidão pelo magnetismo do Seu afeto, extraindo dEle toda a sua vida, luz e calor. Nesta feliz condição são-lhe concedidos novos interesses, mas todos eles determinados pela sua relação com o Senhor.

O fato de aceitarmos Cristo desta maneira todo-inclusiva e todo-exclusiva é um imperativo divino. A fé salta para Deus neste ponto mediante a Pessoa e a obra de Cristo, mas jamais separa a obra da Pessoa. Ele crê no Senhor Jesus Cristo, o Cristo abrangente, sem modificação ou reserva, e recebe e goza assim tudo o que Ele fez na Sua obra de redenção, tudo o que está fazendo agora no céu a favor dos seus, e tudo o que opera neles e através deles.

Aceitar Cristo é conhecer o significado das palavras: "pois, segundo ele é, nós somos neste mundo" (1 João 4:17). Nós aceitamos os amigos dEle como nossos, Seus inimigos como inimigos nossos, Sua cruz como a nossa cruz, Sua vida como a nossa vida e Seu futuro como o nosso.

Se é isto que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar a Cristo, será melhor explicar isso a ele, pois é possível que se envolva em profundas dificuldades espirituais caso não explanarmos o assunto

A. W. TOZER

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Graça Barata ou Lei da Nova Aliança?

Posted by Angelo Bazzo on 07:59 | No comments


 Freqüentemente, quando nos deparamos com situações não exatamente previstas nas Escrituras ou casos polêmicos que dividem opiniões no meio do povo de Deus, somos tentados a perguntar: por que Deus não deixou uma instrução mais clara sobre isso em sua Palavra? Não haveria mais discussão, e tudo ficaria tão simples!

 Por exemplo, no caso do divórcio, por que Jesus não definiu de uma vez por todas se a cláusula de exceção inclui a possibilidade de novo casamento? Teria evitado volumes e volumes de argumentos, defesas, ataques e confusões. Dá até a impressão de que a ambigüidade foi proposital. Mas, neste caso, teríamos que concluir que Deus tem prazer em nos deixar tateando no escuro. Ou será que teria uma outra razão?

 As Duas Alianças

 Na verdade, a chave desse mistério está na diferença fundamental entre a lei do Velho Testamento e a dispensação que Jesus introduziu na Nova Aliança. O princípio da lei é que corações endurecidos e obscurecidos pelo pecado requerem ordens e limites claramente estabelecidos. Deus precisava revelar sua natureza e o padrão de sua santidade através de leis e mandamentos para que o homem pudesse ver a extensão da sua queda e a impossibilidade de restaurar a si mesmo.

 Por outro lado, a premissa da Nova Aliança é que corações quebrantados, renovados e cheios do Espírito Santo irão muito além do “mínimo necessário” estabelecido na lei. Quem ama seu próximo não precisa do mandamento “Não matarás”. Quem considera que tudo pertence ao Senhor não terá que ser cobrado para dar 10%.

 A lei define os comportamentos e ações do homem que são inaceitáveis a Deus. Já os motivos e intentos do coração estão fora do seu alcance. Conseqüentemente, em tese pelo menos, é possível alguém cumprir rigorosamente os preceitos da lei diante dos olhos humanos e, ao mesmo tempo, ter um coração reprovado por Deus. Por isso, no Sermão da Montanha e em vários outros discursos, Jesus enfatizou tanto o interior em contraste com o exterior. Ele deixou muito claro: não era uma questão de abolir ou mudar a lei (Mt 5.17-20), e, sim, de cumpri-la além da letra, no espírito e intenção original de Deus quando a formulou. É por isso que a justiça dos discípulos de Jesus deveria “exceder em muito” a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5.20).

 Os Fariseus e os Saduceus

 Seis vezes, no Sermão da Montanha, Jesus disse “Ouvistes que foi dito... Eu, porém, vos digo” para contrastar a velha e a nova maneira de pensar e agir. Ao contrário do que muita gente pensa, conforme explica Martin Lloyd-Jones em seu livro “Estudos no Sermão da Montanha”, Jesus não estava corrigindo a lei, mas a falsa interpretação dada pelos fariseus.

 Através dos séculos, os cristãos também têm interpretado mal a natureza da Nova Aliança. De um lado do espectro, os liberais entenderam que a lei não tinha mais validade e, por isso, ninguém precisava mais sentir-se obrigado a cumprir normas ou regulamentos. A graça da nova ordem para eles seria mais um ilimitado direito a ser perdoado do que a capacitação divina de viver uma nova vida. É o que costuma ser chamado de “graça barata”.

 Na outra extremidade, os legalistas transformaram as palavras de Jesus e dos apóstolos em um novo código de ordens e mandamentos. Só aboliram as ordenanças cerimoniais, os sacrifícios animais, a guarda do sábado e os demais aspectos específicos da lei de Moisés. Porém a natureza essencial da lei foi mantida: o uso de ordens e mandamentos com limites específicos para impedir que corações duros e insensíveis achassem brechas para transgredir a vontade de Deus. Há pouco tempo, era comum entre determinadas igrejas a regulamentação de “usos e costumes” para controlar o comportamento exterior dos seus membros. Ainda que essas regras tenham caído em grande parte hoje, a prática de impor as normas encontradas no Novo Testamento sobre o povo continua, resultando no que podemos chamar a “lei da Nova Aliança”.

 Lei da Nova Aliança? Não poderia haver maior contradição de termos. Como fariseus modernos, ao invés de buscar a transformação interior que nos dá o anseio de ir além do mandamento para agradar ao Pai, ficamos presos à letra, colocando jugos pesados sobre os outros e sobre nós mesmos. Enquanto isso, os saduceus são mais soltos, mais livres, mais espontâneos, mas erram o alvo do mesmo jeito, pois procuram uma liberdade que não é baseada na verdadeira Palavra viva. Ao rejeitarem o jugo dos mandamentos, acabaram jogando fora também os fundamentos e princípios da Palavra escrita.

 Onde Está Nosso Manual?

 Vamos voltar à nossa pergunta inicial. Por que Jesus não deixou instruções mais específicas sobre o divórcio? Pela mesma razão que ele e os apóstolos não deixaram um modelo definido para o governo da igreja, para a condução do culto, para a porcentagem exata que os cristãos devem contribuir e para tantos outros assuntos do dia-a-dia da igreja e da vida cristã. Primeiro, por uma questão prática, se tivéssemos normas definidas para a condução do culto, por exemplo, seríamos obrigados a adotar exatamente o mesmo tipo de cultura e costume em todas as épocas e em todos os lugares, o que definitivamente não combina com a natureza rica e multiforme do nosso Deus. Segundo, por causa da natureza essencial da Nova Aliança, nosso comportamento e prática exterior devem refletir nossa transformação interior e ser resultado do nosso contato vivo com Deus e não da obediência mecânica a um conjunto de regras.

 O que encontramos na Palavra são princípios, fundamentos, chaves gerais. Quando os fariseus discutiram com Jesus sobre a brecha que Moisés deixou na lei para permitir o divórcio, ele os levou de volta ao princípio de tudo para entender o coração de Deus sobre o assunto. Jamais entenderemos a intenção ou o espírito da Palavra se tentarmos extrair dela uma regra fixa que resolva todos os casos.

 Como, então, lidar com as situações práticas? Se não existe uma “lei da Nova Aliança”, como podemos saber o que é permitido por Deus, agradável a ele, e o que não é?

 Sem dúvida, a base de tudo está na Palavra escrita. Sabemos do valor que Jesus dava às Escrituras, usando-as como arma contra Satanás, como autenticação de todas as suas ações, como ponto referencial claro e indiscutível. Não estamos perdidos num oceano de incertezas, sem fundamentos, livres para fazer o que “sentimos” que está certo.

 Por outro lado, como não temos um manual que ensina o que fazer em cada tipo de situação específica, devemos aplicar os princípios objetivos da Palavra de acordo com a revelação mais ampla da pessoa e do caráter de Deus, conforme vistos na Escritura como um todo, não por meio da interpretação duvidosa de palavras no original ou de textos isolados.

 Vivendo de Acordo com o Espírito da Palavra

 Antes que você comece a levantar objeções, pense um pouco em Jesus e como ele enfrentava os fariseus com suas controvérsias sobre a lei. Quando acusaram os seus discípulos de transgressão por apanharem espigas de trigo no sábado (Mt 12.1-8), Jesus usou o exemplo de Davi que, num momento de necessidade, comeu os pães da proposição do tabernáculo, em clara contradição a uma ordenança divina.

 O que ele queria dizer com isso? Que Deus não liga para os detalhes, que não tem importância errar um pouco de vez em quando? Que a lei não é importante e agora podemos agir de acordo com nossa consciência ou nosso entendimento da vontade de Deus, desde que sejamos sinceros? Não! Ele estava dizendo que há uma forma de obedecer à lei na qual se cumpre o espírito da palavra, mesmo que se tenha de quebrar a letra de um determinado mandamento. Era o que queria dizer também quando afirmou que o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado (Mc 2.27).

 É claro que isso não pode ser interpretado como uma licença para cada indivíduo cumprir o que pensa ser o espírito da Palavra e quebrar qualquer mandamento que quiser. Para nos proteger disso, existe a Igreja, o Corpo de Cristo, a liderança, o conselho de irmãos mais maduros etc. Na verdade, como Paulo exemplificou, embora ele fosse livre para agir como judeu ou gentio, debaixo da lei ou isento dela (1 Co 9.19-23), ele agia com muito mais domínio próprio e cuidado, pois o amor de Deus o constrangia (2 Co 5.14).

 No caso do divórcio, uma das situações mais clássicas e controversas envolve o cônjuge que foi traído e que deseja iniciar um novo relacionamento. De acordo com a interpretação de alguns, a exceção de Mateus 5.32 e 19.9 só autoriza a separação, não um novo casamento. Nesse caso, a aplicação da “lei” poderá trazer um jugo que a pessoa não está preparada para carregar. É muito comum, nesses casos, as pessoas se afastarem da comunhão da igreja e até da comunhão com Deus por não conseguirem conciliar a exigência com sua capacidade de responder em obediência. Jesus condenou duramente os fariseus por atarem fardos muito pesados sobre as pessoas, que acabam morrendo pelo caminho por não conseguirem suportá-los (Mt 23.4).

 Por outro lado, a “lei” do Novo Testamento pode ser interpretada de forma mais branda, se aceitamos que a exceção de Jesus permite o novo casamento. Com isso, perdemos o espírito da Nova Aliança. Vi, recentemente, um bom exemplo disso na coluna de um periódico evangélico em que um pastor responde a perguntas dos leitores. A pergunta era de um marido que, por ter sido traído pela esposa, queria saber se estava livre para se casar novamente. Em sua resposta, o pastor explicou sua posição dizendo que havia, sim, base para novo casamento, já que o caso dele se encaixava perfeitamente na exceção prevista por Jesus. Foi uma resposta coerente, fundamentada, bem explicada.

 Entretanto, é justamente nesse tipo de contexto que proponho que estamos aplicando uma “lei da Nova Aliança” de forma contrária ao Espírito de Jesus. Como posso dar uma resposta a alguém que não conheço, cujo contexto me é totalmente desconhecido, discordando ou dando aval a uma decisão tão séria como essa? Como posso saber se já se esgotaram todas as possibilidades de restauração ou se o marido também não foi culpado, ainda que indiretamente, pelo ocorrido? Será que um coração quebrantado, transformado pela Nova Aliança, iria procurar um aval superior, uma brecha para poder se casar novamente, se houvesse pelo menos um pequeno raio de esperança pela restauração do seu casamento?

 Um dos argumentos mais fortes contra a aceitação de exceções para um novo casamento é que as pessoas não lutam com tanto empenho para preservar a aliança quando acham que, se essa não der certo, sempre haverá a possibilidade de começar uma outra. Outra vez estamos perdendo a essência da Nova Aliança. Se as pessoas que se convertem na igreja – incluindo a nós mesmos – não forem transformadas a ponto de quererem ir além do mínimo necessário, além da letra, a fim de agradarem plenamente ao Pai, estamos perdendo todo o objetivo da obra de Jesus. Podemos até cumprir as normas conforme nosso entendimento da Palavra, mas não passaremos de servos inúteis (Lc 17.10).

 “Ah, mas isso é muito utópico”, alguém vai replicar. “Nós não atingimos esse nível ainda.”

 É verdade. Por isso, mesmo procurando não viver sob o regime da lei, ainda precisamos dos princípios, dos pontos de referência, dos “mandamentos” da Palavra para nos orientarem, para nos mostrarem em que aspectos nosso coração ainda não foi transformado na prática. Entretanto não precisamos nos contentar ou nos acomodar com esse estado. E jamais devemos colocar a “lei da Nova Aliança” como a forma correta ou final para regular a vida dos cristãos.

 Assim sendo, na nossa interpretação e aplicação da Nova Aliança, procuremos enxergar tudo através da revelação integral da Pessoa de Jesus que temos na Palavra e na nossa comunhão com ele. O que Jesus faria nesta situação? Como o Jesus que rejeitou a aplicação fria e condenatória da lei à mulher apanhada em adultério trataria as pessoas que chegam à igreja hoje com vidas totalmente atrapalhadas, num segundo ou terceiro casamento? Como ele agiria com pessoas arrebentadas, feridas, sozinhas, sem chance de voltarem à primeira aliança?

 Como o Jesus que expulsou os comerciantes da casa do Pai e condenou duramente aqueles que usaram suas tradições para invalidar a Palavra de Deus (Mt 15.6) olharia para líderes cristãos que anulam suas alianças e casam-se outra vez, simplesmente porque sentem que o amor acabou ou que não há mais base para manter seu casamento? Como ele responderia àqueles que buscam no significado das palavras originais ou na opinião de eruditos brechas para justificarem atitudes que banalizam o valor do casamento e, conseqüentemente, o valor da nossa aliança com Deus?

 Há um caminho mais excelente, uma aliança muito superior à aliança da lei. Nossas alternativas não são apenas o caminho do legalismo ou o caminho do liberalismo. Se a Nova Aliança é para nós hoje, devemos buscar a realidade da sua transformação, não apenas uma teoria ou um jargão diferente. O caminho já foi aberto; não nos contentemos em viver fora dele!

 
por Christopher Walker

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